Como Sobreviver à Quarentena – Parte III

 

Primeiramente, passo a recordar as dicas já partilhadas na Parte I desta sequência, para ajudar a ultrapassar este período de quarentena:

  • Resiliência;
  • Serenidade;
  • Empatia,
  • Coragem;
  • Perseverança.

No segundo artigo e vídeo falei-vos sobre como se tornarem mais resilientes.

Hoje vou falar-vos sobre a segunda dica: Serenidade. Sobre como mantermos o nosso controlo pessoal e emocional, afastando o stress e a negatividade, que nos atrapalham no nosso dia a dia, levando-nos à serenidade.

Tudo o que sentimos e presenciamos na nossa vida diária pode afetar-nos de forma positiva ou negativa.

O equilíbrio emocional é necessário para que consigamos ter uma vida mais saudável e produtiva. Este equilíbrio será responsável por processar, de forma mais adequada, cada sensação. Com ele, temos a capacidade de domínio sobre os pensamentos e ações, gerindo as emoções de forma mais racional e harmoniosa.

Este equilíbrio é responsável por manter a nossa saúde mental, mesmo em momentos mais difíceis e dolorosos, como pode estar a ser este de isolamento social, para muitos de nós.

O autoconhecimento é trabalhado a par deste equilíbrio que, para além de diminuir as crises de stress e ansiedade, também previne doenças psicossomáticas.

Para usufruirmos de uma vida mais plena é, então, fundamental desenvolvermos o nosso equilíbrio emocional. Mas como o podemos fazer?

  1. Parar, refletir, agir

Sabem o sinal STOP? Podemos aplicar o mesmo objetivo ao nosso controlo emocional, ou seja, vamos parar, refletir e, só depois, agir.

Durante um momento de extremo desequilíbrio, devemos parar para refletir sobre o que estamos a sentir e só depois agir.

No início não será fácil parar, pois agir é o processo que é automático para nós. A maioria das emoções leva-nos a agir de forma abrupta e irrefletida, até à explosão emocional.

Quando percebemos que a emoção é intensa e desagradável, devemos parar. Tal pode acontecer perante uma deceção, uma má notícia, uma privação, entre várias situações que podemos encontrar. Esta pausa permite-nos direcionar toda a nossa atenção para o movimento emocional que cresce dentro de nós e analisá-lo.

Se pararmos, interrompemos o automatismo em que estamos imersos e, como dita o Mindfulness, criamos a possibilidade de responder de forma diferente à habitual. Criamos o espaço entre nós e a emoção. Passamos para o lado do observador.

Partilho, em seguida, um exercício exemplo que podem colocar em prática:

Portanto, vamos relaxar.

Respirem profunda e lentamente, acalmem o corpo e a mente. Acalmem os vossos pensamentos.

Vamos analisar o que está a causar este transtorno em nós.

Vamos prestar atenção na nossa respiração e nas regiões do corpo em que a emoção mais se manifesta. Talvez pelas mãos cerradas, o coração acelerado, uma pressão no peito, uma tensão na barriga, a perna a abanar ou outro sinal.

Vamos respirar profundamente.

A respiração profunda vai permitir que nos acalmemos e permitir que nos conectemos com a nossa pessoa.

Vamos manter essas respirações até conseguirmos chegar ao objetivo de respirar 10 vezes num minuto. O que se não acontecer de uma primeira vez, não terá qualquer problema. Por vezes, o nosso estado, ansioso, enérgico ou stressado, não nos permite. Mas a meta será praticar e focar na respiração.

O áudio deste exercício sobre o controlo emocional e, outro, para ajudar a lidar com emoções difíceis, estão disponíveis aqui.

Vamos, portanto, parar, respirar e acalmar, para analisar de que forma podemos agir, dentro da opção mais saudável possível para nós. Vamos evitar responder no calor do momento, no auge da emoção, prevenindo a impulsividade e as atitudes irrefletidas.

 

  1. Permitir sentir as emoções

Todas as emoções são necessárias. Cada uma delas é valiosa na sua forma e dá-nos informações valiosas sobre nós mesmos.

Imaginem o nosso organismo como uma mala de viagem. Temos sempre pouco espaço, mas tudo o que é importante para nós, tem o seu espaço. As emoções, são as nossas peças, para que a viagem da vida aconteça. Nessa mala, que é o nosso corpo, a nossa mente, há espaço para todas as emoções, sejam elas a alegria, a calma, a raiva, o medo, a tristeza ou outras.

Muitas vezes, quando experienciamos emoções difíceis, podemos experimentar também sensações corporais: bater do coração acelerado, nó na garganta, tremores ou outros. As emoções também falam através do nosso corpo. Se nos acalmarmos, permitimo-nos aperceber-nos que elas existem.

A calma obtida pelo relaxamento com base na respiração, como o exemplo que referi anteriormente, permite-nos também acalmar e diminuir as sensações corporais.

Se nos permitirmos a sentir todas as emoções, permitimo-nos entendê-las e, consequentemente, expressá-las. Controlar as nossas emoções não significa reprimi-las. Se entendermos o que estamos a sentir, podemos analisar a origem de cada sensação e assumir o controlo das nossas ações.

 

  1. Procurar o autoconhecimento

É importante, para adquirir um equilíbrio emocional, que nos conheçamos a nós mesmos. Se nos conhecermos melhor, vamos controlar melhor as nossas emoções, fortalecer a autoconfiança, perceber que soluções temos e como podemos aplicá-las, de forma a sermos mais racionais.

Neste processo de autoconhecimento, acabamos por nos familiarizar com as emoções a um nível vivencial. Aprendemos, através da experiência direta com determinada emoção, o que ela nos causa ou que sensações, também corporais, nos traz.

Quando tomamos consciência da emoção que estamos a sentir, significa que conseguimos observá-la, sem julgamentos. Nesta fase do processo, aceitamos a emoção, em vez de a reprimirmos. Aprendemos a geri-la. A intensidade da emoção é reduzia aos poucos, o que nos permite separar dela. A emoção dissipa-se quando assumimos o controlo. Isto é, não basta ignorar a emoção para que esta desapareça. Desenvolvendo o nosso equilíbrio emocional, permitimos entendê-la, aceitá-la e racionalizá-la, levando a que esta desapareça de forma natural.

 

  1. Ser positivo

A positividade afeta todas as dimensões da nossa vida. O pensamento positivo é poderoso e, além de nos trazer alívio e conforto, motiva-nos à concretização dos nossos objetivos. Pensamentos tóxicos e pessoas ou locais negativos podem levar-nos à baixa da nossa positividade. Podemos promover a nossa capacidade de ser positivo, procurando ver o lado bom de cada momento, cultivando hábitos e momentos que nos proporcionam felicidade.

 

Em suma, uma atitude e uma vida mais serena implica o desenvolvimento do nosso equilíbrio emocional. A decisão sobre agir ou não em cada momento, exige a intenção de querer perceber se estamos a reagir sob uma emoção ou se teríamos a mesma ação, caso agíssemos com base na calma e numa atitude racional.

Portanto, se não for necessária uma resposta imediata, o conveniente será sempre esperar. Neste compasso de tempo, a emoção perde intensidade e conseguimos assimilar melhor a mensagem.

Uma emoção difícil pode transformar-se em serenidade e calma através de exercícios de Mindfulness, exercícios de Atenção Plena.

A prática deve ser diária, para que se torne uma constante pois, como já referi, o nosso modo automático leva-nos a reagir maioritariamente. Com o Mindfulness, conseguimos aprender a lidar com as nossas emoções, sem julgamentos, de forma presente, permitindo-nos a lidar com as várias dificuldades e/ou problemas do nosso quotidiano.

Tal como diz Marcelo Demarzo, médico e professor de Mindfulness, a prática regular de Mindfulness permite-nos experimentar as emoções e poder decidir de forma consciente, a partir das emoções presentes.

Praticantes de Mindfulness não reagem às emoções de forma imediata e inconsciente e; não permanecem presos a determinadas emoções durante horas ou dias, mas têm a capacidade de, em pouco tempo, focarem a atenção noutra atividade, o que permite também uma melhor gestão do tempo no dia a dia.

Spinoza, um grande filósofo do século XVII, corrobora a afirmação de que uma emoção difícil pode tornar-se mais leve com o passar do tempo, quando praticamos uma atenção plena sobre a mesma.

O filósofo, holandês, propôs-se a estudar os afetos, a fim de propor uma ciência para melhor os entendermos. Para ele, devíamos fortalecer os afetos alegres e enfraquecer os tristes, sem negá-los ou reprimi-los.

Para Spinoza, “um afeto que é uma paixão, deixa de ser uma paixão assim que formamos dele uma ideia clara e distinta”. O conhecimento é, para Spinoza, a ferramenta mais poderosa. Pois, se a mente é capaz de um pensamento racional, então ela é capaz de encontrar as verdadeiras causas do porquê de agirmos de determinada forma. Tudo se resume em como as nossas ações podem tornar-se mais fortes que as nossas paixões.

 

Entender os nossos afetos, as nossas emoções, os nossos sentimentos, leva-nos ao nosso equilíbrio emocional e, consequentemente, a uma vida mais feliz e serena.

 

Antes de terminar, recordo as três questões, que também partilhei no artigo e vídeo anteriores, para que as coloquem a cada dia que passa, nesta quarentena que teima em prolongar-se:

1) Do que tenho medo neste momento?

2) Pelo que estou grato hoje?

3) O que eu quero que fique no final deste período?

Coloquem-nas todas as manhãs e respondam de forma imediata. Assim, trabalham a gratidão e diminuem os vossos medos, possibilitando um maior controlo emocional.

 

Assista ainda ao vídeo:

 

Bibliografia de apoio:

SIMÓN, VICENTE (2014). Aprender a praticar mindfulness. Sello editorial, Barcelona.

DEMARZO & GARCIA-CAMPAYO (2015). Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação. Editora Palas Athena.

SPINOZA (2007). Ética Spinoza. Edição monolíngue. 2.ª ed. Trad. Tomaz Tadeu. Autêntica Editora, Brasil.

 

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