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Como Sobreviver à Quarentena – Parte IV

 

Olá de novo. Espero que se encontrem todos bem.

Hoje vou falar sobre #empatia.

Ter empatia significa ter a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa, caso estivéssemos na mesma situação. Significa compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente o outro indivíduo.

A capacidade de se colocar no lugar do outro, que se desenvolve através da empatia, ajuda a compreender melhor o comportamento do outro em determinadas circunstâncias.

Na sua origem, empatia significava paixão. Pressupõe uma comunicação afetiva com outra pessoa.

Ser empático é, portanto, identificar-se com outra pessoa ou outra situação vivida por ela. É saber ouvir e esforçar por compreender os seus problemas, as suas dificuldades e as suas emoções. Num grande envolvimento, através da empatia, o contacto com a outra pessoa gera prazer, alegria e satisfação.

Ser empático exige ultrapassar as barreiras do egoísmo, do preconceito, do medo face ao desconhecido ou àquilo que é diferente. Para exercer a empatia, é necessário retirar o foco de nós mesmos e manter a atenção na outra pessoa.

A empatia ocorre em diferentes campos das relações humanas: nas relações familiares, nas amizades, no ambiente de trabalho e até mesmo com pessoas desconhecidas.

Esta capacidade de empatia torna-se fundamental para a compreensão das dificuldades das pessoas com quem se convive, de forma a atenuar, diminuir e evitar conflitos.

Este é um sentimento que pode ser praticado e uma das maneiras de o exercitar é treinar manter um olhar de afeto sobre as necessidades das outras pessoas.

Diferente da simpatia, que é uma resposta maioritariamente intelectual, a empatia é uma fusão emotiva. Enquanto a simpática costuma unir pessoas através de afinidades, do que estas têm em comum, a empatia ocorre pelo processo de compreensão.

Como nos tornamos mais empáticos?

  1. Reconhecer as emoções:

Perceber o que o outro está a sentir, reconhecendo-lhe as emoções, é um ponto importante para a conexão com a outra pessoa, compreendendo-a, colocando-nos no lugar dela.

A empatia pressupõe a falta de julgamento com base em suposições egoístas, por isso, não há lugar para atitudes incorretas ou despropositadas. A sensibilidade da empática leva a entender a história por trás das ações, fomentando uma tolerância social.

  1. Escutar ativamente:

É necessário parar e observar, dando espaço ao altruísmo, sabendo ouvir atentamente o que a outra pessoa tem a dizer. Em seguida, dar espaço às palavras de conforto ou, se possível, a um abraço.

  1. Respeitar a opinião do outro:

Quando somos empáticos não significa que concordamos com a outra pessoa, contudo, procuramos respeitá-la e entendê-la da melhor forma possível, sem julgamentos. Não faça comparações com outros casos. Cada pessoa é uma pessoa e tem a sua própria carga emocional que, quando comparada ao outro, diminui a sua situação.

  1. Disposição para ajudar:

Com a empatia, temos a habilidade de nos colocarmos na mesma perspetiva da outra pessoa, de forma a que possamos sentir as suas dificuldades, a sua dor, e ajudá-la a superá-las. É ter o coração aberto para entender que cada ser humano é único e passa por situações distintas que o moldam.

  1. Boa comunicação

Saber comunicar com o outro é fundamental, para que consigamos transmitir-lhe que reconhecemos as suas emoções. Uma pessoa empática fará isso com naturalidade, procurando transmiti-lo com palavras de carinho, calma e conforto.

Para além da comunicação verbal, existe a linguagem corporal que é importante na hora de criar laços empáticos. Pequenos gestos podem simbolizar o nível de empatia para com o outro como, por exemplo, demonstrar sinais de concordância com o abanar afirmativamente da cabeça ou até um sorriso. Evitar de todo gestos que demonstrem falta de interesse, como conversar de braços cruzados, estar sempre a bocejar, entre outros.

  1. Ser genuíno

Não cabe na empatia a falsidade ou a crítica. Para trabalhar a capacidade de empatia é necessário que realmente se importe com o outro, que seja genuíno. Se for sincero e gentil, a empatia será natural.

 

Sentir empatia é saber que colocarmo-nos na pele do outro permite sensibilizarmo-nos com a sua realidade, aprendendo a respeitar e aprendendo a viver com as suas diferenças.

De notar que não podemos simplesmente ver os problemas e as alegrias do outro com os nossos olhos, como se fossem nossos, parte da nossa história de vida, assumindo-os como parte da nossa bagagem emocional, achando que absorvemos o que o outro está a passar.

Cada um de nós passa por uma série de acontecimentos que formam a nossa personalidade, pelo que não podemos achar que alguém tem um problema pequeno ou uma felicidade exacerbada porque não vemos como tal. Cabe-nos a empatia para entendermos o outro.

 

A empatia é uma qualidade do ser humano. Para algumas pessoas pode ser uma capacidade mais difícil de desenvolver, mas é possível a todos. Desenvolver a empatia demanda inteligência emocional e psicológica, para lidar com situações em que a empatia se torna necessária.

 

Importa reter que é essencial parar, observar, pensar e saber comunicar. A melhor forma de desenvolver a capacidade de empatia é procurar melhorar a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro.

 

Como a empatia é importante neste tempo de confinamento?

Ao entendermos as dificuldades que têm as crianças das nossas casas ou os adultos com quem convivemos, vamos conseguir ajudá-los a ultrapassar determinadas situações.

Ter empatia com quem estamos a conviver neste momento, para quem se encontra em quarentena preventiva, em isolamento social, é ter oportunidade para crescer, é dar oportunidade à evolução pessoal.

Entendendo as dificuldades, frustrações e medos de quem está à nossa volta leva à diminuição de conflitos, de atritos entre todos e o ambiente fica mais saudável.

 

Para quem os dias já estão mais cansativos, pesados e penosos, um exercício de Mindfulness pode ajudar a acalmar as emoções e a trazer de novo a serenidade à nossa pessoa.

Recordo que o Mindfulness é uma ferramenta que leva ao relaxamento, trabalha a memória, proporciona um melhor sono, reduz o stress e ansiedade, melhora a criatividade e, também, a capacidade de empatia.

Deixo um exemplo:

Se o ambiente está tenso e com um turbilhão de emoções, retire-se por instantes.

Durante breves minutos, coloque-se em frente de um espelho.

Olhe para si mesmo, sem perder o foco visual por uns momentos.

Observe as sensações físicas que as emoções do momento lhe estão a provocar. Tome consciência dessas sensações físicas que estão a manifestar-se no seu corpo, tirando o foco dos seus pensamentos.

Faça um exame corporal, deixando a sua atenção nas diversas partes do seu corpo, uma por uma. Se tiver zonas de desconforto, stress, dor ou tensão, imagine-se a respirar para o centro dessas zonas e depois continue.

Faça umas respirações profundas e quando se sentir mais calmo, direcione a atenção para o que está ao seu redor.

Reserve mais um minuto para si e, depois, volte para o local comum com as outras pessoas com quem está de momento.

 

Poderão praticar este exercício de Mindfulness através do áudio disponível AQUI.

 

No próximo vídeo falarei sobre #coragem, que é necessária a todos nesta fase de pandemia. Não percam, no próximo domingo. Até lá, espalhem a mensagem partilhando os vídeos com os vossos contactos e as vossas opiniões e mensagens comigo.

Fiquem seguros. Até breve.

 

Um abraço,
Dra. Catarina Arouca
Filósofa e Socióloga
Mindfulness Practitioner

 

Veja também:

Como Sobreviver à Quarentena – Parte II

No artigo e vídeo anterior comprometi-me a trazer algumas dicas sobre como treinarem a resiliência, uma capacidade que vos permitirá ultrapassar esta fase de isolamento social de um modo mais brando.

Vamos então aos exercícios:

1. Estado de alerta sobre os pensamentos:

Se estiverem atentos aos vossos pensamentos, vão acabar por reconhecer quando estão a ir para um lado mais obscuro, redirecionando a energia para o lado positivo.
Se sentirem que a vossa capacidade de controlo sobre os vossos pensamentos está comprometida, de algum modo sintam que estão a falhar. O Dr. Marco Martins Bento, Psicólogo e Psicoterapeuta, poderá ajudar-vos a ultrapassar esta fase com mais serenidade;

2. Escolher a resposta:

Podemos escolher reagir sempre de duas formas:

a) de maneira negativa e emocional, focando no que não temos controlo; ou

b) com calma, de forma mais racional e focando naquilo que temos controlo.

Pessoas resilientes tendem a escolher com maior frequência a segunda opção;

3. Manter a perspetiva:

Mantenham a perspetiva de que a crise, a pandemia, terá um final e centrem-se nesse objetivo, nessa meta;

4. Meditar:

A prática frequente da meditação, desde pausas ao longo do dia, mesmo que curtas, permitem recarregar as baterias emocionais. Esta recuperação é fundamental para aumentar e fortalecer a resiliência.

O relaxamento pode diminuir a pressão sanguínea, o ritmo respiratório, o metabolismo e a tensão muscular.

A minha recomendação incide sobre o Mindfulness. Este é um exercício centrado no Aqui e no Agora, ou seja, no momento presente.

Pode ser iniciado com um exercício muito básico, como a lavagem dos dentes. Então, na próxima lavagem, recomendo que prestem atenção na forma como pega na escova, no ritual de colocar a pasta, vejam a quantidade de pasta que colocam. Depois, durante a escovagem, observem ao espelho a forma como escovam os dentes, por que lado da boca começam, como terminam… até voltarem a guardar a escova. O que quero com isto, é que estejam presentes nesse momento e apenas nele. Esqueçam tudo o resto que está a acontecer na vossa casa. Nesse momento, só existem vocês, a escova, a pasta e um espelho.

O relaxamento pode também ser conseguido através de técnicas específicas de respiração, como a abdominal, ou Yoga. E, entre outras mais, também através Tai Chi e Chikung.

5. Desenvolver um pensamento crítico:

Esta capacidade permite encarar problemas e situações complexas como desafios.

Substitua questões sobre de quem é a culpa, quem está a ganhar com isto, entre outras por:

a) o que é do meu controlo? – ex.: fazer quarentena preventiva

b) o que posso fazer? – ex.: colocar em prática as medidas de prevenção indicadas

c) quem me pode ajudar? – ex.: profissionais de saúde

d) o que preciso de saber para lidar melhor com isto? – ex.: informação fidedigna da  Direção Geral de Saúde (DGS)

e) quem me pode aconselhar? – ex.: site da DGS ou, em caso de sintomas, Linha Saúde 24 (808 24 24 24)

f) o que posso fazer para que a situação não piore? – ex.: isolamento social

g) o que posso retirar de positivo da quarentena? – ex.: tempo para estar em família

h) o que posso fazer de diferente? – ex.: solidariedade

6. Praticar a gratidão:

Recorrendo a um exemplo do autor Ivan Nossa, italiano, investigador sobre o poder e impacto da gratidão e do perdão nas nossas vidas, passo o exercício:

Respondam a estas três perguntas, com três respostas imediatas:

1) Do que tenho medo neste momento?

2) Pelo que estou grato hoje?

3) O que eu quero que fique no final deste período?

Podem colocar estas questões todas as manhãs. Poderão ver que trabalhando a gratidão, os vossos medos diminuirão.
Uma situação negativa ganha poder emocional dentro de nós e acabamos por nos esquecer de muitas coisas boas que acontecem na nossa vida, passando estas para segundo plano. Praticar a gratidão faz-nos procurar essas coisas boas, por vezes esquecidas, por mais simples que sejam, e acabamos por dar-lhes o valor que realmente merecem;

7. Focar nas oportunidades:

Cada caso será sempre um caso e, obviamente, será mais difícil para uns que para outros. Contudo, faça um pequeno esforço para transformar esta situação menos positiva em oportunidades. Determine que este período de quarentena será potencialmente produtivo.

Invista em si, reinvente-se a nível profissional, aproveite o tempo em família, faça os programas que foram sempre adiados por falta de disponibilidade, coloque a casa em ordem, invista no autoconhecimento ou em formações online.

Há uma série de possibilidades. Transforme-as na oportunidade do momento.

Quando encaramos as situações como ameaças ou problemas, o nosso sistema de alerta primitivo entra em ação. O cérebro liberta hormônios como cortisol e endorfina, que vão aumentar a pressão sanguínea, o nível de glicose no sangue e o nível de ansiedade.

Já quando encaramos como desafios, o nosso cérebro libera hormônios que promovem a reparação de células, respostas mais relaxadas e estímulo a um uso mais eficiente da nossa energia;

8. Fazer exercício físico:

Não apenas para contrariar o sedentarismo, o exercício ajuda na criação de novos neurónios e conexões cerebrais que contrariam os efeitos do stress. A prática regular ajuda ainda a reduzir a sintomatologia depressiva, promove um sono melhor e, com a produção de endorfinas – hormonas que nos ajudam a sentir melhor – aumenta também os níveis de autoestima.

 

Ser resiliente não é sinónimo de se ser uma pessoa fria. São várias as pessoas que demonstram uma capacidade de resiliência incrível, após atravessarem períodos de grandes adversidades na vida, com uma recuperação verdadeiramente admirável.

Aprender a lidar e gerir os níveis de stress e de ansiedade que se torna cúmplice do mesmo, leva-nos a criar resiliência emocional.

Quem já participou no meu workshop “Resiliência como Filosofia de Vida” ou participou no workshop do qual sou coautora “Reprogramação Emocional” tem a experiência para afirmar que ter o controlo sobre as nossas emoções faz com que nos sintamos melhor.

Costuma-se dizer que os sonhos comandam a vida, mas, na verdade, antes dos sonhos, estão as emoções a comandar a vida.

Elas fazem com que conheçamos os nossos objetivos e delineamos o caminho até lá chegar, que se reflete na nossa produtividade no trabalho, diretamente nas nossas relações pessoais e, que nos conduz ao nosso propósito de vida, que nos leva à resiliência. Por isso, a resiliência encontra-se na base, no ponto de partida.

A resiliência não é um traço de personalidade, que uns têm, outros não. Ela pode ser aprendida ao longo da vida. Ela orienta-nos: para o futuro, para a ação, para a esperança.

 

 

Bibliografia de apoio:
A arte da flexibilidade, Carol Orsborn
Resiliência: a ciência de superar os maiores desafios da vida, Steven Southwick e Dennis Charney
O poder da gratidão, Ivan Nossa

 

Um abraço,
Catarina Arouca
Filósofa e Socióloga
Mindfulness Practitioner

 

Pode ver o artigo e vídeo anteriores aqui:

Como Sobreviver à Quarentena – Parte I

 

DICAS-CHAVE PARA AJUDÁ-LO A VIVER EM QUARENTENA

RESILIÊNCIA – os tempos atuais são um teste à capacidade de resiliência de todos nós. Afinal, o que é ser resiliente? Ser resiliente é ser capaz de manter-se na sua essência, na sua forma habitual e, depois de sofrer este impacto severo que este vírus nos causa, ter a capacidade de recuperar, superar a situação, a adversidade. Para os mais duvidosos da sua capacidade de resiliência, poderão aproveitar este momento para trabalhar a sua resiliência. Como? Muito resumidamente: aprender a equilibrar as nossas emoções, tomar consciência sobre o nosso maior propósito e o nosso principal objetivo, focar e valorização as ações e sentimentos que promovem a confiança, identificar os comportamentos que geram stress, ansiedade ou frustrações e, treinas crenças rígidas e inflexíveis que, por vezes, nos limitam a fazer mais e melhor. Como novamente? Este é um ponto a desenvolver num outro vídeo. Podem começar por desenvolver a vossa resiliência e comportamentos resilientes através da prática de crenças e atitudes para enfrentar de forma segura e madura as adversidades que encontramos diariamente e ao longo da vida.

SERENIDADE – manter o controlo pessoal e emocional. O stress e a negatividade atrapalham o raciocínio e a resolução de problemas.

EMPATIA – seja empático para com o outro. Importe-se com os seus colegas de trabalho, com os seus amigos, com a sua família. Entenda e respeite a situação de cada um, mesmo que não seja a que considera ideal para si.

CORAGEM – mantenha-se firme. Mantenha-se atualizado com as notícias diárias. É importante estar a par dos desenvolvimentos, o que não quer dizer que deve passar o dia a ouvir ou pesquisar sobre o tema.

PERSEVERANÇA – seja persistente. O seu papel é fundamental e faz a diferença na estatística. Já percebeu que uma pessoa infetada só tem conhecimento do seu estado no final de 14 dias? Já pensou que todas as pessoas com quem essa pessoa contacta durante esse período em que pensa que está bem, encontram-se em risco? E já pensou na quantidade de pessoas com quem essas pessoas contactaram e que, por sua vez, ao final de novos 14 dias, encontram-se também em risco? E os contactos dessas pessoas? A cadeia de transmissão pode ser bem numerosa se não for persistente e não cumprir com o isolamento profilático. Se tem a possibilidade de ficar em casa, por favor, fique.

CONFIANÇA – confie no seu potencial para fazer mais por si em tempo de quarentena. Confie na informação das entidades representantes e oficiais. Não desconfie de tudo e tão ponto se alimente de teorias da conspiração. Confie naqueles que lutam diariamente para nos tratar porque, se for afetado diretamente com a doença, eles cuidarão e darão o melhor de si, por si.

POSITIVIDADE – seja positivo face às atualizações diárias. Acredite na máxima que provavelmente tão viral quanto o verdadeiro vírus: tudo vai ficar bem.

 

 

Não se esqueça de seguir as recomendações da Direção Geral de Saúde e de procurar atualizar-se com informação fidedigna, que encontrará nesta entidade oficial.

 

Se lhe for possível, fique seguro, fique em casa.
Cuide de si, ajude a cuidar de todos.

 

Um abraço,

Catarina Arouca
Filósofa e Socióloga
Mindfulness Practitioner