Divórcio dos pais: qual o lugar da criança?
Segundo o PORDATA, em 2017, por cada 100 casamentos houve 64 divórcios. Um número que nos faz refletir sobre as mudanças sociais profundas que se traduziram numa multiplicidade de tipos de famílias.
Para as crianças, a fantasia de viver num seio familiar com o pai e a mãe, muitas vezes promovida em filmes e desenhos animados, leva-as a ter maior dificuldade em aceitar a separação dos pais. Com frequência, a criança sente que pode ser a culpada pelo divórcio ou que os pais não mais a amarão como antes, e esta terá que escolher com quem ficar. É um período nunca fácil, mas que, se for bem gerido, será entendido naturalmente pela criança.
Quando a separação entre os pais ocorre sem mútuo consentimento, num clima conflituoso – divórcio litigioso -, a criança poderá ser disputada pelos pais e, muitas vezes, usada como “arma de arremesso” no conflito entre os progenitores.
Nesta guerra, indesejada pela criança, os pais poderão disputar pela sua guarda, pelos bens da mesma e tentar influenciar a perceção que esta tem do outro progenitor, fazendo-a acreditar que o outro (pai ou mãe) não gostará dela.
Internamente, a criança sente que terá que escolher em que lado se colocar, pode adotar um discurso pouco coerente pautado pela desejabilidade de um dos progenitores, e poderá desenvolver problemas de comportamento, dificuldades escolares, problemas de autoestima e, a longo termo, problemas de personalidade.
Num processo de divórcio, a criança deverá ser colocada em primeiro lugar, ao invés de se privilegiar uma guerra de egos entre pai e mãe.
Não esqueça:
– A criança vai sofrer e pode sentir-se culpada pela separação;
– Poderão surgir problemas de comportamento e dificuldades emocionais;
– Poderá sentir que os pais não gostam dela e recear ser abandonada;
– Se a separação for gerida com bom senso, a criança compreenderá o divórcio e aceitará a sua nova rotina.
Marco Martins Bento
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta