Artigos

O meu filho só se interessa pelos jogos eletrónicos!

Os pais do séc. XXI parecem desesperados.

Na internet, na televisão ou em conversas com amigos todos têm opiniões diferentes sobre a parentalidade, limites e regras a impor aos nossos filhos. Os pais ficam confusos e a confusão gera dúvidas, incertezas e inseguranças sobre como ser “bom pai” ou “boa mãe”. Quando a dúvida se instala, os pais tendem a deixar de desempenhar com firmeza o seu papel de educadores e submetem-se às exigências dos filhos.

Perante um, cada vez maior, apelo pelas tecnologias, as crianças mostram grande interesse pelo uso de aparelhos eletrónicos e jogos. Jogos cada vez mais apelativos, pensados para “viciar” as crianças, com fortes sistemas de recompensa.

Com um cérebro em profunda maturação, ainda pouco hábil ao autocontrolo, é fácil às crianças perderem a noção de tempo e alienarem-se do que as rodeia. E alguns pais, ao invés de imporem limites aos filhos no uso de jogos, são os primeiros a incentivar as crianças, oferecendo telemóveis, tablets, consolas e jogos. A maioria das crianças que veem à minha consulta, enquanto aguardam na sala de espera, ficam a jogar no próprio telemóvel ou no dos pais. Esta parece ser a solução mais fácil e imediata para manter a criança sossegada, mas isto tem consequências!

Mais imediatamente, estamos a privar a criança de interagir adequadamente com o meio que a rodeia. Não ensinamos à criança a noção de tempo e de espera, porque sempre que esta fica alienada a jogar não aprende a esperar e a gerir o seu comportamento de forma consciente. A longo prazo, limitamos os interesses e inibimos a exploração que esta faz do meio em que vive e reduzimos a sua curiosidade.

Posto isto, é natural que a criança não desenvolva competências sociais e interpessoais, uma vez que aprende que na vida tudo pode ser como um jogo em que pode parar, reiniciar e jogar as vezes que quiser, quando quiser. Estamos a formar crianças e jovens com baixa tolerância à frustração, com baixos níveis de empatia e com pouca consciência de si.

Urge substituir o excesso de tecnologias por maior interação e mais jogos de tabuleiro em que os pais e outros adultos e crianças se mobilizam. A bem da diversão, das nossas crianças e do futuro das nossas gerações.

 

Marco Martins Bento

marco
Marco Martins Bento
(Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta)