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Eternos Adolescentes

O desenvolvimento humano é complexo e nem sempre linear. Em cada idade existem determinadas competências que são desenvolvidas e processos orgânicos que maturam, tornando-nos num ser cada vez mais apto e evoluído.

O modo como nos desenvolvemos depende de dois aspetos fundamentais: por um lado a carga genética e biológica (herdada aos pais), por outro o acumular de experiências vividas e interação com um meio social e relacional. É da sinergia entre os mecanismos biológicos e contextuais que estruturamos a nossa maneira de ser também designada de personalidade.

Cada indivíduo tem a sua personalidade e é isso que nos torna únicos!

Este é o mote para abordar um tema que julgo atual: os eternos adolescentes. Isto é, adultos que apesar das exigências sociais e profissionais mantém comportamentos caraterísticos da adolescência, como se a estrutura mental e emocional não tivesse acompanhado o desenvolvimento físico.

Gostaria de falar nisto por entender que existe algum trabalho a realizar neste âmbito e por considerar que parte dos problemas entre casais, no trabalho e nas restantes relações se devem a comportamentos enquadráveis nesta temática.
Desde logo importa clarificar que, ao passo que o crescimento corporal está muito dependente de fatores biológicos, a maturação emocional e cognitiva deriva mais das experiências vividas e do modo como foram integradas. Isto resulta, com frequência, num desajuste entre o corpo e mente: adultos num corpo de adulto, mas com uma mente imatura.

É comum encontrarmos nestas pessoas atitudes e comportamentos pouco expectáveis, dificuldades em gerir as emoções e controlar impulsos, uma visão muito autocentrada, pouca tolerância, tendência para a indecisão e dificuldades em assumir compromissos. No início de uma relação (quer profissional quer amorosa) podem parecer pessoas apaixonantes, pelo seu espírito aventureiro e empreendedor. Como tendem a ser inconsequentes, ou seja, a avaliar incorretamente as consequências dos seus atos, fazem falsas promessas e criam expetativas infundadas (nelas próprias e nos outros), levando à deceção e frustração.

Do que tenho observado em clínica, parece haver uma tendência para que estas pessoas se aproximem de outras emocionalmente mais frágeis e carentes, pois demonstram uma abertura e disponibilidade afetiva imediatas, muito necessárias a quem procura preencher um vazio emocional. O resultado tem-se revelado pouco benéfico para ambos: de um lado a expetativa criada em torno da relação sai gorada e aumenta o sentimento de frustração, do outro a imaturidade emocional é exacerbada ao não saber como lidar com a situação e corrigir o erro.

Apesar de tudo, tenho boas notícias: é possível (e diria, desejável) mudar algumas caraterísticas mais imaturas, tornando-as mais adaptadas e funcionais. Não se pretende que deixe de ser quem é, mas importa dar um sentido de maior responsabilidade e maturidade.

Se sente que pode ser o seu caso, ou se conhece alguém que sofre nesta situação, não espere e procure um profissional.

Com um abraço.
marco
Marco Martins Bento
(psicólogo clínico e psicoterapeuta)