Pequenos (Grandes) Traumas!
Esta semana convido-o(a) a “viajar” até às memórias da sua infância.
Qual ou quais as recordações que lhe vêm à mente?
Nalguns casos serão memórias de bons momentos em família ou amigos; noutros talvez lembranças na escola ou de descobertas próprias da idade; outras, ainda, poderão ser recordações menos positivas ou até dolorosas e traumáticas.
Independentemente do que seja o seu caso, certo é que esta(s) memória(s) não espelha(m) tudo o que armazenamos no nosso cérebro, sendo apenas uma ínfima parte daquilo que guardamos no nosso inconsciente.
Na verdade, tudo o que somos – a nossa identidade – é condicionado pelas aprendizagens que fizemos ao longo da vida e que, em primeira instância, resultam dos acontecimentos pelos quais passámos (sejam bons ou maus), assim como do modo como os interpretámos.
A vivência de determinados acontecimentos fica registada na nossa mente, em forma de memória, e mesmo que não tenhamos consciência dela, o natural é que essa memória condicione a forma como no futuro nos relacionamos com o mundo que nos rodeia.
Um exemplo prático é o de um adulto ansioso, que em criança sempre foi demasiado protegido e não teve possibilidade de explorar o seu redor. Se na sua infância ainda era repreendido pelos pais, assustado em relação a demasiados perigos ou castigado, tudo isso se refletirá num adulto amedrontado e dependente.
Este caso ilustra a importância das memórias associadas a “pequenos traumas”. Quero com isto dizer que as lembranças menos positivas não têm que ser somente situações de maior gravidade ou interpretadas como violentas. Todos os momentos em que no nosso passado fomos castigados sem motivo (ou pelo menos, na altura não entendemos a razão), fomos menosprezados e desvalorizados ou nos disseram: “não faças”, “tu não consegues”, “o que fizeste está mal”, foi imprimindo no nosso inconsciente crenças castradoras ou limitantes que, hoje em dia, se repercutem nos nossos relacionamentos, trabalho e na forma como nos vemos a nós próprios.
A dificuldade em compreender o motivo pelo qual, muitas vezes, se persiste no mesmo erro, se fazem as coisas de determinada maneira ou se mantém certas relações encontram justificação em vivências passadas, mesmo que não tenhamos disso consciência.
Deixo uma sugestão: procure descobrir que acontecimentos do seu passado podem estar a marcar, decisivamente, o seu presente e tente aceitar o que aconteceu como uma oportunidade de aprendizagem. Olhe para essa memória, distancie-se e responda: “o que aprendi com o que me aconteceu?” e “como posso melhorar com tudo o que já sei hoje?”.
Conheça-se melhor e seja feliz.
Um abraço amigo.

Marco Martins Bento
(psicólogo clínico e psicoterapeuta)



